Por Bruno Fernandes
” Sim, são diferentes. Foram, aliás, inúmeras as vezes em que não ganhei, mas
muito poucas as em que perdi. Seja na academia ou na indústria, pessoal
ou profissionalmente, saibam que nem sempre vão ganhar – mas isso não
implica que perderam! Antes pelo contrário. O que conta é a caminhada, as
aprendizagens que surgem ao longo do caminho e as pessoas com quem
partilham esses momentos.
Seja porque ficaram retidos um ou mais anos na universidade. Seja porque
a procura de emprego está a dar luta. Seja porque a vossa Startup não teve
sucesso. Seja por circunstâncias da vida. Não desistam. Falhar faz parte do
processo! Aliás, o caminho está cheio de curvas, retrocessos, batalhas e
obstáculos – mas, também, que graça teria se fosse uma simples linha reta?
Definido que está o preâmbulo, deixo-vos um pouco da minha experiência
naquilo que eu chamo de um “PhD empreendedor”.
Foi durante o meu primeiro ano de mestrado que decidi que o meu futuro
passaria pela via do empreendedorismo e que iria criar a minha própria
empresa. Fi-lo? Não, não fiz. Por circunstâncias da vida e acontecimentos
pessoais, comecei a trabalhar como Engenheiro de Software enquanto
estava ainda no primeiro ano de mestrado. Devo dizer que, embora não
fosse o plano inicial, valeu bem a pena. Tanto o é, que por lá fiquei durante
quase cinco anos – numa fase inicial conjugando com o mestrado e, numa
fase posterior, com o doutoramento. Ir para a indústria enquanto tirava
mestrado foi circunstancial, mas foi – provavelmente – o melhor que
poderia ter acontecido. Por um lado, capacitou-me significativamente
enquanto profissional e engenheiro, por outro, permitiu-me crescer enquanto
pessoa e ser humano. Não tenham dúvidas, o que aprenderão ao colocar
“as mãos na massa” é infinitamente superior a todos os conceitos teóricos e
simulações práticas de um mestrado. Tenho, aliás, para mim, que falta em
Portugal uma ligação muito mais profunda da academia com a indústria,
seja em licenciatura ou mestrado.
Terminado que estava o mestrado, continuava a minha caminhada na
indústria. Contudo, tinha já à priori definido o objetivo de tirar doutoramento.
Assim o fiz. Durante dois anos a conciliação entre trabalho e doutoramento
foi dura, mas fazível. Contudo, estava a chegar uma altura de decisões – ou
continuava o doutoramento e saía da indústria, ou continuava na indústria,
mas pausava (na melhor das hipóteses) o doutoramento. Arrisquei e abdiquei
de toda a segurança que tinha, profissional e financeira, para me dedicar
ao doutoramento. Quando comuniquei a decisão que tinha tomado, foram
muitas as interpelações de pessoas que me perguntavam se eu queria
mesmo sair e fixar-me na academia. A minha resposta era que não! Não, o
meu objetivo nunca foi o de me estabelecer na academia (à qual, infelizmente,
reconheço cada vez menos valor) enquanto investigador ou docente, mas
sim o de ter tempo e disponibilidade para conduzir investigação científica
em múltiplos domínios do meu interesse e que me permitissem, assim que
terminasse o doutoramento, avançar com o plano de criar a minha Startup.
E assim foi, i.e., aproveitei a disponibilidade e liberdade de conduzir investi-
gação em domínios do meu interesse para, posteriormente, avançar para a
indústria – para colocar em prática a teoria científica, que é o que deve ser
feito. Eu fi-lo no doutoramento. Mas também o poderão fazer no mestrado,
p.e., aquando do trabalho de dissertação.
Em jeito de conclusão, anos após ter definido o meu objetivo empreendedor,
pude finalmente cumpri-lo. Mas cumpri-o no momento certo. Nem dema-
siado cedo, nem demasiado tarde. Depois de andar para a frente, e voltar
para trás. Depois de várias batalhas e obstáculos. É esta riqueza inerente
a cada caminho que faz a caminhada valer a pena”.