Por Isaac Barbosa (UX Specialist)
A síndrome do impostor é caracterizada por um padrão psicológico onde os
indivíduos questionam as suas conquistas e receiam ser expostos como uma
“fraude”, apesar das amplas evidências das suas competências. As pessoas
que sofrem com esta síndrome, geralmente atribuem o seu sucesso à sorte
ou a fatores externos, em vez de reconhecer as suas próprias capacidades.
Permitam-me partilhar a minha experiência com a síndrome do impostor.
A poucos meses de concluir a minha licenciatura em Interaction Design na
Northumbria University, dei por mim a batalhar contra a incerteza do meu
valor enquanto profissional. Este sentimento intensificou-se assim que
dei início à minha carreira profissional, aquando das primeiras propostas
de trabalho. Desde sempre estabeleci padrões elevados para mim, acre-
ditava que qualquer resultado menor que a perfeição seria um fracasso.
Consequentemente, desvalorizei as minhas conquistas, convencido de que
eram meros produtos do acaso ou de circunstâncias externas.
Ao longo do meu percurso profissional em Portugal, observei frequentemente
indivíduos excecionalmente talentosos que procuravam incansavelmente a
aprovação dos outros, muitas vezes alheios ao seu próprio nível de compe-
tências. Sendo eu português, acredito que esta maneira rebaixada de olhar
para o trabalho que produzimos, está profundamente enraizada na nossa
cultura. Assim que comecei a ser mais consciente desta postura, também
refletida em mim, adotei estratégias transformadoras para neutralizar aquela
busca incessante porvalidação.
Partilho convosco algumas dessas estratégias:
- A Importância da Auto-Exploração
Comecem por obter clareza sobre quais são os vossos pontos fortes iden-
tificando também as vossas fraquezas. Esta autoconsciência servirá como
um escudo, protegendo-vos não apenas das críticas externas, mas, mais
significativamente, das vossas próprias dúvidas. Quanto mais intimamente
familiarizados estiverem com as vossas falhas, menos espaço os pensa-
mentos intrusivos ocuparão.
- Normaliza as Falhas e Contratempos
Trabalhar em equipa pode ser extremamente desafiador. Este será o momento
em que, indiscutivelmente, serão confrontados com dúvidas e obstáculos
para os quais não possuem uma resposta imediata. Porém, não se deixem
enganar, pela minha experiência, todos os elementos da vossa equipa
abrigam as suas próprias incertezas e vivenciam momentos de conflito
interno — simplesmente são melhores a escondê-los. Entendam que falhas
e contratempos são componentes naturais num processo de aprendizagem.
Mesmo os indivíduos mais talentosos enfrentam desafios e cometem erros
durante a jornada.
A comunicação é fundamental, portanto, não hesitem em partilhar com
os vossos colegas de trabalho as vossas incertezas, assim que o fizerem,
encontraram alguém para vos acompanhar na procura de respostas, ou
melhor, alguém que já as possui. De qualquer forma, saíram desta situação
a ganhar.
- Comemora as Pequenas Vitórias
Antes de mais, num caderno, ou o que funcionar melhor para vocês, docu-
mentem as vossas metas de longo prazo (e.g. um ano). Posteriormente,
dividam esses objetivos em marcos menores e alcançáveis — estas serão as
vossas metas de médio prazo (e.g. três meses). Dissequem estes objetivos
em fragmentos ainda mais gerenciáveis, constituindo assim os vossos
objetivos de curto prazo (e.g. objetivos mensais). Por último, lembrem-se de
comemorar cada passo durante o percurso, reconhecendo que o progresso
é uma viagem e cada passo, por mais pequeno que seja, conta.
Quando nos concentramos exclusivamente nas metas de longo prazo,
torna-se difícil manter a motivação ao longo de todo o percurso, espe-
cialmente quando estas metas podem levar anos para serem alcançadas.
Aqui, torna-se crucial proceder à fragmentação destas em marcos mais
rapidamente alcançáveis, de modo a sentir que estamos a progredir em
direção a algo maior atendendo à realização de tarefas mais curtas. Desta
forma, podemos manter a nossa sensação de progresso constante ao longo
do caminho.
- Procura o Desconforto
Durante os últimos anos, fui desafiado a trabalhar com tecnologias e
softwares que estavam para além da minha imaginação. Acompanhar o
ritmo do desenvolvimento humano, especialmente em setores cuja evolução
está diretamente indexada à indústria da tecnologia, pode ser uma tarefa
árdua. Mesmo que sejam indivíduos autodidatas, chegará o momento em
que serão confrontados com algo totalmente desconhecido. É precisamente
aqui que, para mim, ressurgiu a síndrome do impostor.
O foco não deve ser apenas convencer os outros das vossas capacidades,
mas, mais importante, convencerem-se que são capazes de se transcender.
Como mencionei anteriormente, tenho vindo a ser desafiado com propostas
que ultrapassam os meus conhecimentos imediatos. No entanto, sempre
que isto acontece, eu acredito firmemente que, ainda assim, sou o candidato
mais adequado para o cargo. Assim, sempre me desafiei ao limite, obrigan-
do-me a navegar por águas que nunca antes tinha navegado, e a embarcar
em todas as viagens.
Nos momentos de maior desconforto, encontrarão o maior potencial da
vossa evolução profissional. Desafiem-se sempre, nunca digam “não”
a uma oportunidade, mesmo que não se sintam preparados. Permitam-se
a aprender durante a viagem, e não antes, e observem o vosso crescimento
além do que jamais imaginaram.
Estas técnicas mostraram-se particularmente eficazes para superar a
síndrome do impostor na minha experiência pessoal. No entanto, existe uma
quantidade de outras abordagens para lidares com este fenómeno. Confia
nas tuas habilidades e supera os limites impostos por ti, ficarás surpreendido
com a magnitude das tuas conquistas!