Por Filipa Fernandes
” Nascida em Guimarães em 1985 num hospital pequeno, ainda com traço
arquitetónico antigo. A minha história começa num parto difícil, que originou
um nascimento complicado, mas cá estava eu pronta para abraçar o mundo.
Fui crescendo de forma reservada, com uma visão muito pitoresca do que
me rodeava. Muitas vezes mergulhava nos meus pensamentos montando
como legos os sonhos de uma vida. Na fase mais complexa da triagem
escolar, no ensino secundário, segui numa fase inicial a vontade da família
próxima, que achava que ser médica era o mais importante. Como será fácil
de adivinhar, seguir aquilo que me preenchia aliado a algo que me trouxesse
perspetivas de vida era o mais importante. Atendendo a essa perfectiva
fui imagine-se só para o ramo das artes, onde a minha imaginação podia
ser proporcional aos meus sonhos. Num belo dia de inverno, onde chovia
torrencialmente fui junto com os meus colegas de turma conhecer os cursos
de Engenharia da Universidade do Minho,Polo de Guimarães. Deparei-me
no momento com um curso chamado Engenharia de Materiais, em que as
suas aplicações e potencialidades me permitiam continuar a sonhar no meu
mundo tão próprio. Imagine-se só uma aluna de artes entram no curso de
Engenharia. Parece loucura, mas foi amor à primeira vista.
Em 2006 a porta da Universidade do Minho abriu-se para mim. O carinho
de quem estava naquela estrutura foi imenso e o curso foi-se desenrolando.
Nesta altura encontrei um novo amor, o futsal quando envergava a camisola
da AAUMinho. Apesar de jogar em clubes, a minha grande aventura foi
mesmo pela AAUMinho, onde cai muitas vezes, mas fui-me levantando até
levar o troféu para casa. Aqui consegui adquirir as ferramentas necessárias
para a vida empreendedora.
Agora vem a parte maravilhosa da história, pois, durante mais de 5 anos,
desde o quarto ano que me dedicava a 1000% à investigação, quer na
vertente aluna/bolseira mas também na vertente orientadora (mesmo que
informal). Durante este período adquiri ferramentas de orientação pessoal,
pois vi-me forçada a crescer e a apoiar outras pessoas que dependiam de
mim. Aqui vai a primeira visão crítica da perspetiva académica, ser bolseiro
apenas interessa se esta bolsa deriva de uma parceria com uma empresa
séria e responsável. Todos os trabalhos são bem-vindos desde que tenham
aplicabilidade de resolução de problemas reais. Em 2016 fiquei 4 meses
sem bolsa, com promessas reais de que voltaria a receber o salário, coisa
que nunca aconteceu. Vendi o meu carro e cresci sabendo claramente que
o meu rumo seria diferente. Como forma de minimizar estes 4 meses sem
salário, foi-me “oferecida” uma bolsa de compensação durante 5 meses
com uma empresa a ganhar 750 euros, em colaboração com a TecMinho.
A parte divertida foi mais uma vez a falta de tato de quem não olha para
os alunos/bolseiros com olhos de quem precisa de trabalhar para conseguir
suportar as despesas. Escusado será dizer que se esqueceram da “comissão”
da TecMinho.
Tristezas à parte, quando caímos temos necessidade de nos levantar e
seguir caminho. Foi nesta altura que me foi proposta a possibilidade de ser
fundadora de uma nova start-up, composta por um joalheiro, um bancário
e um advogado.
Tinha tudo para correr bem desde o início…. Aqui irei encurtar os últimos 6
anos pois entre cair, levantar e arrumar a casa foi uma verdadeira e constante
luta (que fica para outros capítulos).
Na boa verdade resiliência foi sem dúvida a definição do que sou hoje, pelo
que faço, pelo que vivo, pelo papel que tenho na sociedade. Todo o meu
foco é sem dúvida arrancar sorrisos de pessoas que com simples soluções
aliadas à ciência conseguem ter melhor qualidade de vida.
Mais gozo me dá ainda sabendo que com nada fizemos muito, pela força de
vontade que eu sempre tive e demonstrava. Numa nota final, quem quiser
fazer uma carreira na área que o faz feliz deve sempre ter a certeza de que
o caminho é muito complexo, muito duro, que arranca muitas lágrimas,
mas que no final vale a pena.”